sexta-feira, 12 de junho de 2015

Três Assim #6 | Billy Wilder: o Mestre dos Roteiros Inteligentes

“Três Assim” chega mais uma vez com dicas especiais para o seu próximo fim de semana e aproveita para rechaçar a previsível falta de originalidade que desmantela, ano após ano, as melhores intenções de apaixonados circunscritos frente a comercial data do Dia dos Namorados. A coluna de hoje oferece aos leitores sugestões de comédias que, assim como a vida, são amalucadas e sempre possuem aquele singelo toque de romance. Os três filmes indicados animarão desde os casais afogueados até os solitários mais arredios, e ainda relembrarão e aclamarão um dos principais mestres da arte de contar boas histórias: o diretor, produtor e roteirista Billy Wilder.

Polonês radicado nos Estados Unidos antes mesmo do início dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, Billy Wilder, que trabalhava como jornalista na Europa, começou a escrever os seus primeiros roteiros empregando justamente um olhar crítico e provocativo em relação a questões triviais e intrínsecas ao ser humano. Com excepcional inteligência e espírito visionário, não foi muito difícil para que ele conquistasse os grandes estúdios de Hollywood com suas peças de tramas envolventes, responsáveis por considerá-lo, tempos depois, uma das mentes mais brilhantes da indústria cinematográfica. Wilder é responsável, por exemplo, pelos incríveis roteiros de “Ninotchka” (1939) de Ernst Lubitsch e “Bola de Fogo” (1941) de Howard Hawks.

Billy Wilder era astucioso, e tinha o raro poder de conseguir transitar entre diversos gêneros cinematográficos sem que seus filmes perdessem a sua peculiar e costumeira qualidade. Entretanto, a familiaridade e o domínio mais íntimo do gênero da comédia podem ser observados com mais clareza dentro da segunda metade da carreira de Wilder enquanto diretor. Em seus últimos filmes, ainda estão impressas a solidez e o sucesso da parceria com o também roteirista I. A. L. Diamond, famoso anteriormente pelos roteiros de “Dois Aventureiros do Texas” (1948) de David Butler e “O Inventor da Mocidade” (1952) de Howard Hawks.

Wilder e Diamond trabalharam juntos de “Amor na Tarde” (1957) até “Amigos, Amigos, Negócios à Parte” (1981) totalizando 12 filmes roteirizados pelos dois e dirigidos pelo polonês. Com a ressalva da obscurecida trama de humor negro “A Vida Íntima de Sherlock Holmes” (1970), e resguardadas as características de um sufocante suspense que classificam “Fedora” (1978) como um drama, todos os demais filmes da dupla de roteiristas abusam do romance e de aprazíveis dissimulações para nos contarem divertidas histórias.

As indicações de hoje ainda chegam a dialogar com a Mostra das “Screwball Comedy”, que vem fazendo sucesso entre o público aqui de Belo Horizonte desde o dia 5 de junho. As comédias absurdas faziam muito sucesso na era dourada de Hollywood (anos 30 e 40), e Billy Wilder, como não poderia deixar de ser, também se inseriu dentro deste contexto. Na Mostra em questão o público tem, inclusive, a chance de conferir o seu admiravelmente divertido “A Incrível Suzana” (1942).

A seu modo, as comédias realizadas por Wilder nos anos consecutivos à essa época gloriosa conservaram todas as características que flertavam com essa “razoabilidade ilógica” e, muito embora tenham sido produzidos no início da década de 60, continuaram divertindo grandes plateias da mesma forma leve e descompromissada. E sabendo que falar de Billy Wilder é sinônimo de falar de bons filmes, confira, enfim, as nossas três recomendações que, apesar de terem perdido um pouco do brilho por se seguirem após os estrondosos sucessos de “Quanto mais quente Melhor” (1959) e “Se meu Apartamento Falasse” (1960), são discricionariamente excelentes e não podem deixar de serem vistas:

Cupido não tem Bandeira (One, Two, Three, Estados Unidos, 1961)

Direção: Billy Wilder

C. R. MacNamara (James Cagney) é um médio executivo da Coca-Cola que aguarda ansiosamente a sua promoção para um cargo mais respeitado da multinacional em Londres. MacNamara administra como pode a conturbada filial da empresa em Berlim Ocidental. O gerente vê seus sonhos e planos ameaçados quando recebe a notícia da visita de Scarlett Hazeltine (Pamela Tiffin), a filha do se chefe, que passará a temporada de férias na capital alemã e deve ser mantida sob sua guarda.

O ambiente de aparente e relativa tranquilidade desaba e a desordem se instaura quando MacNamara, desesperado e temendo uma demissão, descobre que Scarlett se casou em segredo com Otto Ludwig Piffl (Horst Buchholz), um jovem suspeito de envolvimento com comunistas na porção oriental da cidade.

"One, Two, Three" (1961) de Billy Wilder - Bavaria Film [de] | The Mirisch Corporation [us] | Pyramid Productions [us]

Irma la Douce (Irma la Douce, Estados Unidos, 1963)

Direção: Billy Wilder

Nestor Patou (Jack Lemmon) é um honesto policial que foi transferido para uma desregrada região de meretrício dos subúrbios de Paris. Durante o seu serviço ele conhece Irma (Shirley MacLaine), uma prostituta pela qual se apaixona instantaneamente. Após uma confusão generalizada provocada por um excesso de virtuosismo e honradez à sua corporação, Nestor acaba sendo punido com a demissão e passa a viver com Irma, transformando-se rapidamente em seu cafetão.

Ciumento, o ex-policial não permite que prostituta se encontre com mais nenhum homem, a não ser ele mesmo. Tentando tirar Irma da vida libertina, ele começa a pagar por todo o tempo de trabalho da moça, mas a tarefa não será tão simples, até que o inusitado surgimento do misterioso Lorde X poderá ajudar ou atrapalhar as intenções de Nestor com a amada.

"Irma la Douce" (1963) de Billy Wilder - The Mirisch Corporation [us] | Phalanx Productions

Beija-me, Idiota (Kiss me, Stupid, Estados Unidos, 1964)

Direção: Billy Wilder

Em uma hilariante autoparódia, Dean Martin interpreta o canastrão “Dino”, um cantor mundialmente conhecido que passa pela pequena Climax, Nevada, e conhece dois sonhadores e aspirantes a compositores. Barney (Cliff Osmond) é o abelhudo atendente do posto de gasolina da cidade, já Orville Spooner (Ray Walston) um humilde professor de piano. O que Dino não esperava é que seus dois novos amigos haviam elaborado um plano com o objetivo de detê-lo em Climax para que ele escutasse as canções da dupla.

Por outro lado, o astro cara-de-pau demonstrou o seu insaciável apetite por mulheres, pretendendo aproveitar o seu tempo encalhado na cidadezinha da melhor maneira possível. Ciumento, Orville ainda descobre que Zelda (Felicia Farr), sua bela esposa, fora presidente do fã-clube de Dino. Diante disso, ele a dispensa por uma noite e contrata a sedutora Polly the Pistol (Kim Novak), uma espécie de esposa substituta que deixará o cantor “cheio de vontade” de comprar o direito das músicas.

"Kiss Me, Stupid" (1964) de Billy Wilder - The Mirisch Corporation [us] | Phalanx Productions | Claude Productions [us]

É ISSO... BOM FIM DE SEMANA E BOAS SESSÕES!

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