quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Sempre um Clássico #Especial | Filmes que completam 100 anos em 2015

Marcado por retrospectivas, listas de melhores e homenagens, o mês de dezembro sempre desperta a iniciativa de sites e blogs especializados em Cinema em promover e publicar artigos e mais artigos que, periodicamente, fazemos questão de preservar como guias genuínos para auxiliar no nosso aprofundamento em relação à Sétima Arte. Na mais justa realidade, guardamos esses invariáveis artigos e listas até que os próximos saiam no final do ano seguinte.

Entretanto, o compêndio de selecionar alguns filmes para certas ocasiões acaba sendo muito interessante e oportuno; e o que o Rotina Cinemeira propõe fazer agora promete agradar muitas pessoas que perseguem curiosas vários dos títulos relevantes que ajudaram a contar a rica história da cinematografia mundial.

Ao final de 2015, algumas obras alcançarão um patamar ainda maior nessa história: se tornarão filmes centenários! Produtos valiosos que sobreviveram ao desgaste e à destruição (ao contrário de muitos outros negativos do período), ou ao mero ostracismo, e ainda assim continuam sendo constantemente lembrados pelo público. Escolhemos assim, com todo o cuidado, três grandes trabalhos que, definitiva e literalmente, marcaram época desde os seus lançamentos em 1915 e que, a partir de janeiro de 2016, iniciarão mais um capítulo de sua, agora, carreira centenária.

Para compreender e apreciar! Começamos a nossa seleção com o representante mais conhecido do período, constantemente lembrado por estudiosos e cinéfilos como um dos clássicos absolutos da História do Cinema.

O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation, Estados Unidos, 1915)

Direção: D. W. Griffith

Indiscutivelmente clássico, “O Nascimento de uma Nação” (1915) de D. W. Griffith é o importante registro histórico de um dos períodos mais conturbados do processo de formação dos Estados Unidos da América; um documento de valor inestimável tanto para as definições básicas da arte cinematográfica (que ainda engatinhava) quanto para manter sempre em evidência, aos olhos de qualquer espectador, as raízes violentas e, por vezes, irracionais que firmaram os ideais de um país que, hoje, se enche orgulho pela forma como trata e zela os seus cidadãos.

Constantemente classificado como uma das dez obras mais importantes para o Cinema, sobretudo pela sua altíssima qualidade técnica, “O Nascimento de uma Nação” ainda consegue posicionar o trabalho de Griffith como um dos mais valorizados e, ao mesmo tempo, um dos mais desprezados da história da sétima arte. As polêmicas e as inspirações de reações completamente opostas vêm, sobretudo, da temática que conduz a linha principal do enredo: o claro e evidente teor racista da narrativa, que é baseada no romance explicitamente preconceituoso “The Clansman: An Historical Romance of the Ku Klux Klan” do norte-carolinense Thomas Dixon Jr.

O primeiro épico histórico a invadir as telas (com suas mais de três horas de duração) caminha por diversos pontos da história estadunidense, mostrando como a Guerra de Secessão (1861 - 1865) foi capaz de dividir amigos e destruir famílias, como o caso dos Stoneman e dos Cameron, que têm seus dramas retratados ao longo do filme. Começando com eventos anteriores ao conflito civil, que explicam a introdução da escravidão na América, tanto os Stoneman (nortistas) quanto os Cameron (sulistas) são apresentados de forma concomitante na primeira metade de “O Nascimento de uma Nação”.

À medida que a guerra confrange os desejos esperançosos de nação, tanto os escravos quanto os simpatizantes dos abolicionistas começam a ser vistos como a grande ameaça destrutiva para os Estados Unidos. Passando por vários outros episódios relevantes no processo (como o assassinato de Abraham Lincoln, por exemplo), a segunda metade do longa começa com a “reconstrução” de um país dilacerado, apresentando a ascensão e plena organização da Ku Klux Klan, cujos membros são apontados como muitos dos autênticos e legítimos heróis da Confederação; daí toda a natureza das controvérsias da película.

Contada a partir de uma perspectiva sulista, o retumbante capítulo da “grande vitória” de “O Nascimento de uma Nação” é ideologicamente indefensável. Nem mesmo a história de amor entre Elsie Stoneman (Lillian Gish) e o Coronel Ben Cameron (Henry B. Walthall), utilizada como uma espécie respiro dramático, consegue quebrar a atmosfera perturbadora do filme. O que nos alenta é que um país como os Estados Unidos, que produziu e aprovou (com ressalvas por Woodrow Wilson, o presidente na época) um filme com esse tipo de abordagem para exibição pública, tenha conseguido eleger, em menos de 100 anos da sua estreia, o nome de Barack Obama para assumir a Casa Branca.

Capítulo à parte e fora dos tópicos que devemos sempre lamentar; em termos de inovação artística, linguagem cinematográfica e brilhantismo de produção, “O Nascimento de uma Nação” é uma relíquia que deve ser eternamente preservada.

"The Birth of a Nation" (1915) de D. W. Griffith - David W. Griffith Corp. [us] | Epoch Producing Corporation [us]

Os Vampiros (Les Vampires, França, 1915)

Direção: Louis Feuillade

O caráter imagético e onírico que contorna a misteriosa saga de “Os Vampiros” (1915), do cineasta Louis Feuillade, contribuiu muito para alavancar o Cinema como uma nova forma de expressão artística já em seus primeiros anos de existência. Lançados de maneira espaçada e irregular em salas comerciais da França entre os anos de 1915 e 1916, os rolos deste lendário filme são, na verdade, uma série fragmentada em dez episódios de durações variadas e vagamente interligadas por artifícios surreais que contam as alucinantes e estapafúrdias atividades de uma organização criminosa de Paris. Juntas, as capitulações ultrapassam 400 (proveitosos) minutos em seu corte final, totalizando mais de seis horas e meia de pura habilidade inventiva e plasticidade estética que foram responsáveis, entre outras coisas, por fundar as bases do thriller como cinema de gênero.

Livremente inspirado no folhetim “Os Subterrâneos de Paris”, o filme minucia as desonestas façanhas dessa sociedade secreta que se autodenomina “Os Vampiros”, comandada por quatro mestres do crime urbano que ainda contam com a ajuda da estonteante Irma Vep (interpretada pela sensual e expressiva atriz parisiense Musidora). Todas as extravagâncias da gangue são combatidas com vigorosa ousadia pelo repórter Philippe Guérande (Edouard Mathe) e por seu ajudante Oscar Mazamette (Marcel Lévesque) em um incessante jogo investigativo, onde o próprio Philippe assume o papel do detetive herói que cai em completa desgraça ao se ver preso em uma “teia de aranha” amoral e maniqueísta que deflagra o real valor de suas ações em uma relativa reviravolta na história.

Crítico e sabotador em relação à aparente rigidez ajuizada da burguesia europeia do início do século XX, “Os Vampiros” se engrandece ainda mais pelo fato de ter alcançado o seu refinado tom de deboche buscando inspiração em historietas de almanaques policiais baratos da época, mas que conseguiam flertar da maneira mais íntima possível com a literatura francesa contemporânea e com as narrativas góticas do período medieval, sobretudo as produzidas na Grã-Bretanha. Desconcertante, “Os Vampiros” estará sempre presente na cultura cinematográfica universal, pretendendo derrubar muitos “castelos de cartas” construídos por instabilidades morais que acompanharão gerações e gerações da nossa humanidade.

"Les Vampires" (1915) de Louis Feuillade - Société des Etablissements L. Gaumont [fr]

Regeneration (Regeneration, Estados Unidos, 1915)

Direção: Raoul Walsh

Um pouco menos reconhecido que “Os Vampiros” e não tão célebre quanto o estrondoso “O Nascimento de uma Nação”, mas igualmente importante em valores históricos, também se destaca “Regeneration” (1915) do cineasta nova-iorquino Raoul Walsh. Famoso por dirigir projetos vigorosos como “Heróis Esquecidos” (1939), “Seu Último Refúgio” (1941) e “Fúria Sanguinária” (1949), Walsh conhecia, descrevia e retratava como poucos o submundo do crime que sempre insiste em voltear pelas ruas da “capital do mundo”. Basicamente, o filme conta a história de um órfão que nasceu e foi criado na miséria, mas que encontrou meios nada honestos para subir na vida e, de certa forma, controlar Nova York com as próprias mãos.

A linha principal que segue o garoto pobre em busca da redenção após alcançar o topo do mundo em uma vida ditada pela ambição sempre foi o fio condutor de vários outros roteiros conduzidos por Raoul Walsh, mas aparece em “Regeneration” (seu primeiro longa-metragem) pela primeira vez. Aqui, seguimos Owen (Rockliffe Fellowes), um descendente de imigrantes irlandeses que, ainda na infância, passa por uma série de dificuldades desde o falecimento da mãe. Forçado a viver nas ruas desde os 10 anos de idade, Owen cometia crimes casuais como pequenos furtos e sempre mantinha viva na mente a ideia de que, para sobreviver, alcançar o poder era primordial. Aos 25 anos, o jovem já comandava a sua própria gangue, que passava a maior parte do tempo faturando (e endividando) entre bebidas e jogos de azar. Entretanto, o desentendimento com um dos membros de seu bando e o encontro casual com a professora Marie Deering (Anna Q. Nilsson) acabaram despertando em Owen o desejo de mudar de vida, de regenerar-se.

Esse drama remissivo é baseado no livro autobiográfico “My Mamie Rose” do também nova-iorquino Owen Frawley Kildare, o escritor que cresceu semelhantemente escoriado pelos subúrbios da cidade tendo desde cedo uma vida muito difícil, mas não tão agitada quanto à do Owen da ficção. “Regeneration” saiu das sarjetas, sobretudo, para escancarar a dura realidade das periferias da Nova York do início do século XX, mas também foi o filme responsável por inaugurar um dos subgêneros mais populares do cinema hollywoodiano nas décadas que se seguiram: os filmes de gângsters.

"Regeneration" (1915) de Raoul Walsh - Fox Film Corporation [us]

Também merecem destaque:

- The Italian (The Italian, Estados Unidos, 1915) - de Reginald Barker;

- Fatty’s Tintype Tangle (Fatty’s Tintype Tangle, Estados Unidos, 1915) - de Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle;

- Carlitos Marinheiro (Shanghaied, Estados Unidos, 1915) - de Charles Chaplin;

- O Vagabundo (The Tramp, Estados Unidos, 1915) - de Charles Chaplin;

- Enganar e Perdoar (The Cheat, Estados Unidos, 1915) - de Cecil B. DeMille;

- O Golem (Der Golem, Alemanha, 1915) - de Henrik Galeen e Paul Wegener;

- Carmen (Carmen, Estados Unidos, 1915) - de Cecil B. DeMille.

É ISSO! ETERNOS CLÁSSICOS... INCRÍVEIS LEMBRANÇAS!

BOAS SESSÕES!

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