Martin Landau tinha orgulho do que fazia. Por muitas
vezes, em discursos inflamados e adequados à redundância, afirmava – sem falsas
modéstias – que o que fazia e o que sempre fez de melhor na vida fora atuar.
Nascido no Brooklyn, o polivalente ator faleceu na madrugada do último sábado,
aos 89 anos, em Los Angeles, cidade acolhedora de todo o seu talento.
Vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 1995 por “Ed Wood” (1994) de Tim Burton, Martin Landau
ainda dizia que se sentia muito confortável em representar papéis situados abaixo
das linhas do protagonismo, pois considerava uma área propícia para um
verdadeiro artista demonstrar toda a sua versatilidade. Não é à toa que o seu
nome está creditado em mais de 170 produções feitas para o cinema e para a
televisão ao longo de quase 65 anos de carreira. Landau foi figura carimbada em
uma série de sucessos da TV estadunidense como “Maverick”, “Bonanza”, “Os Intocáveis”, “Além da Imaginação” e “Missão:
Impossível” (série que rendeu o primeiro de seus três Globos de Ouro em
1968); além de interpretar por duas temporadas o Comandante John Koenig em “Space: 1999”, até hoje um dos maiores
sucessos da televisão britânica.
Um ponto fraco frente à essa dezena de participações é o fato
de que, invariavelmente, atores que marcam presença em muitos projetos erram mais
do que acertam na escolha dos seus papéis e acabam construindo um currículo
extremamente irregular ao longo dos anos. Por outro lado, quando assumem com
propriedade algum personagem icônico, artistas com essas características acabam
deixando registrados na memória afetiva do espectador o valoroso esforço de uma
incomum e genuína dedicação ao trabalho.
Retornando ao filme de Burton, cabe ressaltar que Martin
Landau entrega para o público e para a crítica o papel de sua vida. Encarnando
Bela Lugosi, um dos maiores nomes do cinema clássico de terror, o ator nos
convence como um astro decadente que oferece, através de seus dramas e crises
existenciais, uma sustentação perfeita aos infortúnios de Ed Wood, cineasta vivido
por Johnny Depp no longa.
Martin Landau (1928 - 2017) em "Ed Wood" (1994) de Tim Burton - Touchstone Pictures [us] |
Antes de vencer o Oscar por “Ed Wood”, Martin Landau havia sido indicado em outras duas oportunidades
pela Academia, ambas também na categoria de Ator Coadjuvante: uma em 1989 por “Tucker: Um Homem e seu Sonho” (1988) de
Francis Ford Coppola; e a outra em 1990 por “Crimes
e Pecados” (1989) de Woody Allen. Neste último, uma deliciosa comédia
dramática, Landau interpreta outro personagem marcante de sua carreira: o oftalmologista
nova iorquino Judah Rosenthal que, recoberto por uma camada de falso moralismo,
se encontra em uma saia justa ao perceber que a amante está prestes a revelar
os detalhes do caso extraconjugal para sua esposa. Diante desse intercorrente
dilema pecaminoso, este homem se lança em uma jornada de culpa e de dor que
ultrapassa os limites do certo e do errado e que é moldada por um caráter que,
aparentemente, não definia a sua real personalidade.
Fora do campo ficcional, o dilema de ser ou não ser um
protagonista nunca esteve na alçada imediatista da carreira de Martin Landau,
nunca sobrando espaço para arrependimentos. Para ele, o sucesso só viria com
muito trabalho onde, como artista, iria sempre procurando manter o espírito
aventureiro e o campo de visão o mais amplo possível diante das oportunidades
que lhe eram oferecidas. A sua ambição em atuar vinha sempre em primeiro lugar,
desde quando trabalhava como cartunista do periódico The New York Daily News em
meados dos anos 40. Não demorou muito para que as primeiras investidas no campo
da dramaturgia começassem a dar frutos, fazendo com que Landau estreasse nos
palcos com a peça “Detective Story”
em 1951 e ainda recebesse um convite para estrelar, neste mesmo ano, “First Love”, a sua primeira Off-Broadway
como ator.
O salto do teatro para a televisão veio com uma
participação pequena em um episódio do seriado “The Goldbergs” em 1953. Anos mais tarde, Landau veio a fazer a sua
gabaritada estreia nas telas de cinema interpretando o vilão Leonard no
clássico “Intriga Internacional”
(1959) do mestre Alfred Hitchcock. De lá para cá o ator nunca parou de
trabalhar; e em meio a personagens inesquecíveis e outras tantas produções de
menor expressão, podemos afirmar que Martin Landau conduziu muito bem o
protagonismo de sua própria vida!
Que agora descanse em paz... (1928 - 2017)
Dez filmes com Martin
Landau que indico (em ordem de predileção):
01 - Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors, Estados Unidos,
1989) - de Woody Allen
02 - Intriga Internacional (North by Northwest, Estados Unidos, 1959) - de Alfred Hitchcock
03 - Ed Wood (Ed Wood, Estados Unidos, 1994) - de Tim
Burton
04 - Tucker: Um Homem e seu Sonho (Tucker: The Man and His Dream, Estados Unidos, 1988) - de Francis
Ford Coppola
05 - O Justiceiro Negro (Black Gunn, Reino Unido | Estados Unidos, 1972) - de Robert
Hartford-Davis
06 - Nevada Smith (Nevada
Smith, Estados Unidos, 1966) - de Henry Hathaway
07 - Noite sem Fim (They
Call me Mister Tibbs!, Estados Unidos, 1970) - de Gordon Douglas
08 - Cine Majestic (The
Majestic, Estados Unidos, 2001) - de Frank Darabont
09 - Noite de Pânico (Alone
in the Dark, Estados Unidos, 1982) - de Jack Sholder
10 - Uma Cidade Chamada Bastardo (A Town Called Bastard, Reino Unido | Espanha, 1971) - de Robert
Parrish
Martin Landau e Woody Allen em "Crimes and Misdemeanors" (1989) de Woody Allen Jack Rollins & Charles H. Joffe Productions [us] |
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